sábado, 15 de novembro de 2008

quente + frio = calafrio

De início: estranhamento
minhas mãos frias, teu corpo quente
Até que o frio e o quente começam a dançar...
Dançam, se entrelaçam, tornam-se um só
Um só calafrio!
Minha voz treme: timidez
Tua voz treme: desejo
Mas não é preciso que eu fale, só ouço...
ouço tua respiração no meu ouvido
depois, teu suspiro de alívio.
O espaço que era largo, torna-se curto
E aquele canto que era quarto, casulo
O que conseguimos?
Conseguimos brincar de Deus, parar o tempo, congelar os movimentos de rotação e translação terrestre: e rodamos.
Essa noite amor, o tempo parece que parou.
Parou para ver o quente e o frio fazerem as pazes.

Desiludir-se

Deparar-se com a desilusão é como ver o fantasma da morte
Você sente-se fraco, indefeso
se sente bicho
Mas o que é desiludir-se senão acordar?
Chorar de desilusão é deixar com que as lágrimas, ao escorrerem, levem consigo o engano
No primeiro instante, você pensa ter caído, pensa não poder mais levantar
Desiludir-se não é triste, seria triste verdadeiramente, se a desilusão não te encontrasse(ou se você não encontrasse ela...)
se o pranto não lavasse tua alma
E a cada desilusão é como se um pouco do seu olho, do olho do teu espírito, se abrisse para a vida.

domingo, 9 de novembro de 2008

E se...

Se eu soubesse qual era a escolha certa, se eu não precisasse buscar o teu calor em pequenos gestos , em olhares... se eu não tivesse tantas dúvidas quanto minha habilidade de te desvendar
E se eu te conhecesse melhor, se o teu sorriso não me parecesse oras tão doce oras tão falso e se de repente você não me aparecesse tão frágil Tão frágil e com carinha de quem me quer de verdade.
Se tua respiração não fosse tão quente e tua voz tão muda.
E se aquela voz, aquela outra voz, me pedisse pra ficar...
Eu poderia ficar! Eu poderia parar.
Mas agora eu não posso mais...
Já fui tão longe, já me desprendi de tanto, de tudo.
Que se eu te esperar, posso ficar para trás
Agora eu vou atrás
Atrás da minha felicidade custe o que custar.
Nem que me custe o fim de tudo, porque o começo sempre virá novamente.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Para finalizar esse rodízio de textos com mesmo tema e tempero diferente ( confesso que eu mesma estou enjoada), deixo aqui um poema do grande Carlos Drummond de Andrade.
(Depois de um arroz branco, que tal uma lasanha?)

Acordar, Viver

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpurademente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?Ninguém responde, a vida é pétrea.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Chão de vidro

Do teu beijo não mais me recordo.
Na dança das línguas perdi os sentidos, só restou a lembrança do cheiro de querer espalhado no ar.
Daquele quarto, só ficou esse desejo com gosto amargo de sede.
E agora me sinto em chão de vidro.
Tão perto do fundo, mas ainda de pé.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O Buraco

E tudo me lembrava uma partida de buraco. Eu, preocupada em formar longas canastras, segurando as cartas na mão, a fim de conseguir uma jogada sólida e racional. Enquanto você lançava todas as cartas na mesa o mais instintivamente, ou aparentemente instintivamente, possível...
Até que, sem que eu ne desse conta, acabaram um a um os mortos ( e com eles, as chances de sobrevida) e fez-se o fim do jogo.
E agora, olhando daqui de cima,não totalmente de fora, tudo ainda se parece com o buraco.
Buraco? Abismo!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Levantei?

LEVANTEI: não notei sua ausência de imediato
Levantei, mas não pude despertar
Levantei: depois da pancada brusca, eu levantei, mas não me ergui
Levantei: olhos embassados, não queria acreditar no fim
Levitei: quis sair da realidade

Despenquei, aí então pude despertar
" Não é o que se pode chamar de uma história original, mas não importa, é a vida real"