segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Para finalizar esse rodízio de textos com mesmo tema e tempero diferente ( confesso que eu mesma estou enjoada), deixo aqui um poema do grande Carlos Drummond de Andrade.
(Depois de um arroz branco, que tal uma lasanha?)

Acordar, Viver

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpurademente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?Ninguém responde, a vida é pétrea.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Chão de vidro

Do teu beijo não mais me recordo.
Na dança das línguas perdi os sentidos, só restou a lembrança do cheiro de querer espalhado no ar.
Daquele quarto, só ficou esse desejo com gosto amargo de sede.
E agora me sinto em chão de vidro.
Tão perto do fundo, mas ainda de pé.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O Buraco

E tudo me lembrava uma partida de buraco. Eu, preocupada em formar longas canastras, segurando as cartas na mão, a fim de conseguir uma jogada sólida e racional. Enquanto você lançava todas as cartas na mesa o mais instintivamente, ou aparentemente instintivamente, possível...
Até que, sem que eu ne desse conta, acabaram um a um os mortos ( e com eles, as chances de sobrevida) e fez-se o fim do jogo.
E agora, olhando daqui de cima,não totalmente de fora, tudo ainda se parece com o buraco.
Buraco? Abismo!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Levantei?

LEVANTEI: não notei sua ausência de imediato
Levantei, mas não pude despertar
Levantei: depois da pancada brusca, eu levantei, mas não me ergui
Levantei: olhos embassados, não queria acreditar no fim
Levitei: quis sair da realidade

Despenquei, aí então pude despertar
" Não é o que se pode chamar de uma história original, mas não importa, é a vida real"